SAPATEADO
UM BREVE PANORAMA DA DANÇA NO BRASIL
O povo brasileiro é conhecido no mundo por sua característica alegre, um povo que canta, dança e enfrenta suas adversidades. Desde a época dos escravos temos usado a dança para nos esquentar do frio, para espantar o calor, comemorar as colheitas, fabricar vinhos; mas antes ainda desses tempos, os primeiros povos a habitar nessa terra já dançavam, para chamar a chuva, espantar maus espíritos, curar enfermidades, comemorar a caça e a pesca...Temos sim, a dança em nosso DNA, seja essa herança vinda dos índios, dos escravos, dos europeus, dos americanos; seja de onde for ou que dança seja, chegando aqui passa a se incorporar em nossas vidas formando um novo código genético.
Muitas danças acadêmicas vão para as ruas buscar seu público, no nosso caso (sapateadores), somos da rua com a essência do improviso, de fazer em qualquer lugar e com qualquer pessoa; fomos para dentro das academias nos aperfeiçoar e buscar mais adeptos. Agora voltamos para a rua, para mostrar tudo o que sabemos, democratizar o acesso e a prática dessas danças que fazem barulho e que tocam o coração. Segundo Faro,
[...] a dança é o que de bom se fez no passado, o que de bom se faz agora e o que de bom se fará no futuro, e será dança aquilo que contribuir efetivamente, aquilo que se somar positivamente às experiências vividas por gerações de artistas suas existências ao plantio e cultivo de uma arte cujos frutos surgem agora, não apenas nos nossos palcos, mas nas telas dos nossos cinemas e das nossas televisões, deixando de ser algo cultivado por uma pequena elite para se transformar num meio de entretenimento dos mais populares nas últimas décadas. (FARO, 1986, p. 130). O Sapateado Americano que é conhecido popularmente através dos musicais da Broadway e dos filmes produzidos em Hollywood nos anos 1940-1950 e respectivamente seus grandes intérpretes como Gene Kelly, Fred Astaire, Ginger Rogers, Debby Reynolds e tantos outros. Apesar de serem produções fantásticas, esses filmes só representam, porém, uma pequena faceta da riqueza da linguagem do Tap Dance, tendo deixado de fora uma parcela significante de seus melhores expoentes. Segundo Harper (2015), o sapateado sempre se nutriu de numerosas influências, e acolheu outras formas de dança e expressões artísticas, incorporando-as em seu vocabulário.
É uma arte que continua, até hoje, "aberta", ainda segundo Harper (2015), acolhedora de abundantes possibilidades de diálogos artísticos com manifestações em diversos países e direções artísticas. Harper também nos dia que,
"[...] uma nova geração está revolucionando o sapateado com sua criatividade, diversidade geográfica, emprego de novas tecnologias e novas influências artísticas. O Brasil, celeiro de tantos bailarinos, e hoje de numerosos sapateadores talentosos, participa desse movimento e tem largo potencial criativo". (HARPER, 2015).
O Sapateado Americano é uma modalidade de dança
com uma origem popular e que aos poucos tomou conta de uma nação tornando-se o
símbolo daquele país. Tem como principal meio de execução, o tronco fazendo com
que os pés se movimentem por consequência, contendo em cada sola dos sapatos de
couro, duas chapinhas de metal - uma na altura dos dedos e outra no calcanhar;
produzindo sons rítmicos, podendo ter a utilização de músicas ou não. O
objetivo do Sapateado, segundo Martins (2006), como forma de expressão é a
construção rítmica, por isso, quando executado com música deve passar a fazer
parte dela como se fosse um instrumento de percussão, da mesma forma quando
feito "à capela", deverá ser contagiante e ritmicamente construído na forma
musical.
Onde e quando as culturas se encontram
A história do Brasil poderia ser contada sob o aspecto cultural, mais especificamente através das danças dos inúmeros povos que para cá migraram em busca de uma vida melhor. As manifestações artísticas em geral expõem as alegrias e tristezas do seu povo que por onde passam absorvem influências locais e principalmente contribuem para o enriquecimento cultural da localidade onde aportam.
Segundo Borges (2009), quando aqui chegaram os Portugueses, haviam em torno de um milhão de índios distribuídos em dezenas de grupos tribais, sendo muitos deles da raiz Tupi. Mas outras tribos também tiveram papel na formação do povo brasileiro e sua cultura, os modos de vida era o que os diferenciavam uns dos outros, a atividade agrícola tinha seus primeiros passos dados; e mesmo em grande quantidade as tribos não atuavam conjuntamente, sua ação evolutiva os fazia "[...] com que cada unidade étnica, ao crescer, se dividisse em novas entidades autônomas que, afastando-se umas das outras, iam se tornando reciprocamente mais diferenciadas e hostis". Ainda de acordo com Borges,
[...] o Povo brasileiro influenciado pela Europa extinguiu milhares de povos nativos, com suas línguas e culturas próprias e singulares, para dar nascimento às macro etnias maiores e mais abrangentes que jamais se viu. A dança indígena era um ritual largamente usado como forma de religião, poder e entretenimento. A maioria das coreografias era circular com um ritmo marcado pela batida dos pés e cantos. Cada grupo tinha sua dança característica, que registrava a importância da família, o respeito pelos mortos, o poder vindo das entidades ali cultuadas com o objetivo de receberem benções de boa colheita e saúde. Os instrumentos utilizados eram flautas, chocalhos, cuias, etc. (BORGES, 2009).
A
catira é uma dança que mostra a forte influência indígena no seu bailado, mas contribuição
portuguesa também se faz evidente através do "vira" e do "fado" trazidos pelos jesuítas que faziam festas de
adoração aos santos, assim como também acontece no Brasil.
A medida que outros povos europeus desbravavam nosso país, suas influências culturais exerciam sua função de integração, fosse na língua ou nos costumes, segundo Borges (2009) "[...] nas danças espanholas podemos citar o flamenco, que por suas características de batidas de pé e palmas também vieram por influenciar a catira brasileira". A chula, dança praticada no Rio Grande do Sul, teve grande influência espanhola e é muito parecida com os passos da catira Lundun, "[...] Outro ritmo do flamenco é o Farruca muito difundido pelo famoso filme "Carmen" onde o bailarino sapateia com as pontas do pé cujos passos são muito lembrados no estilo de catira Lundun mais encontrado na região de Minas Gerais".
Raízes africanas também estão presentes na história da catira da região norte do Brasil, através do uso de instrumentos de percussão e um ritmo muito próximo ao ritmo do "tambor de crioula" dança típica africana. Em suas pesquisas, Borges ainda nos diz que,
"[...] o Tambor de Crioula é uma dança de origem africana praticada por descendentes de negros no Maranhão em louvor a São Benedito, um dos santos mais populares entre os negros. É uma dança alegre, marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração. Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de crioula são variados podendo ser: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos" (BORGES, 2009).
No
ano de 2007, o Tambor de Crioula recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Com esse título podemos perceber que mesmo
recebendo diversas influências culturais de outros países, foi possível
considerar o Tambor de Crioula genuinamente brasileiro, apesar de cada
região fazer suas variações, sendo Minas Gerais mais tradicionalista e São
Paulo e Goiás com influências da linha country americana.
Vimos o entrelace dos diversos tipos de sapateios da cultura regional brasileira com expressões artísticas vindas de Portugal, Espanha e indiretamente de outras regiões da Europa, agora veremos que a percussão corporal recebe muita influência dos jogos africanos e do sapateado americano, que por sua vez tem influência direta da dança irlandesa, inglesa e também dos africanos. Uma das maiores referências nesse sentido é Keith Terry, pesquisador de música corporal, músico, dançarino e percussionista que vive em Oakland, EUA. Segundo Simão (2013), "[...] Keith foi baterista da Ensemble Jazz Tap Original, um baterista que acompanhava sapateadores (tap dancers) e que transportou seus padrões daquele instrumento para o seu corpo". Também na música corporal é possível observar como as diversas influências das artes corporais e cênicas dialogam entre si e com a música. "[...] Há grupos que são fortemente influenciados pelo sapateado, pela linguagem teatral, pela música vocal. É importante ressaltar que essas formas de produzir música estão relacionadas com a história, os costumes e a cultura das pessoas de cada região do mundo. (SIMÃO, 2013, p.37).
FONTE: trechos extraídos do trabalho de conclusão de curso de pós-graduação em Gestão Cultural, Cultura, Desenvolvimento e Mercado (SENAC)
de Gisella Martins, concluído em fevereiro de 2017.
Este é um trecho do trabalho de conclusão de curso de p´s-graduação em Gestão Cultural, Cultura. desenvolvimento e Mercado (SENAC) escrito por Gisella Martins. Este trabalho na íntegra não estará disponível na Biblioteca Virtual por se tratar de um projeto de execução com planilha orçamentária. Desta forma apenas uma versão para o site ficará disponível, pedimos encarecidamente que ao utilizarem o mesmo, dediquem as devidas citações bibliográficas.
Bibliografia:
BORGES, Carolina de Miranda. O povo brasileiro e a Catira. efdeportes.com Revista Digital. Buenos Aires, dezembro 2009. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd139/o-povo-brasileiro-e-a-catira.htm. Acesso em 10 Jan. 2017.
FARO, Antonio José. Pequena História da Dança. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1986.
HARPER, Steven. Residência de sapateado com Steven Harper. Café Teatro das Marias-agenda. Fortaleza 07 Out. 2015. Disponível em: https://www.teatrodasmarias.com/agenda/oficina-de-sapateado-com-steven-harper. Acesso em: 31. Jan.2017.
MARTINS, Gisella Militão. A influência do sapateado americano no desenvolvimento neuropsicomotor da criança. Monografia do curso de graduação em Fisioterapia. Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP. 2006.
SIMÃO, João Paulo. Música Corporal e o Corpo do Som: Um Estudo dos processos de Ensino da Percussão Corporal do Barbatuques. Dissertação de mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do títulode mestre em Educação. Área de concentração: Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte. Campinas-SP 2013. Disponível em: https://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000913295. Acesso em 11 Jan. 2017.
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